terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Keef


Acabo de ler a última página - a 612 - de "Vida", a autobiografia de Keith Richards, "Keef" pros íntimos. Devorei o livro como um prato suculento, nada diet, nem um pouco light. Se fosse uma comida, com certeza seria um leitão à pururuca, super temperado, com batatas coradas em volta e uma maçã na boca. Acompanhado de Jack Daniels (não tomo mais isso, mas entendo muito bem). Se fosse uma droga, seria... ah, seria todas.

Keith fala como um brother sentado do seu lado na mesa de um boteco, lembrando velhas aventuras, sem autoindulgência, e se mostra um cara até bastante sensível pro galo de terreiro que ele sempre foi. Porrada sim, mas sem perder la ternura jamás. Seu amor pela música está acima de tudo. Seu amor pelos Stones é decorrência disso, e ele é o responsável pela banda estar unida até hoje, apesar da morte de Brian Jones, das prisões semanais nos anos 60/70, da egolatria de Mick Jagger e, principalmente, do decorrer do tempo.

Não era pra uma banda de rock que começou em 1962 e foi responsável, ao lado dos Beatles, pelo boom do rock'n'roll dos anos 60, estar viva até hoje. Viva e pulsante. Tome-se o último álbum de estúdio dos Rolling Stones, "A bigger bang" (2005). Poderia ser um disco de encheção de linguiça, daqueles que vivem do passado da banda, que servem só de desculpa para mais uma turnê caça-níqueis. Pois o disco é uma aula de rock. A energia é a de uma banda principiante, com membros na casa dos 20 aninhos. É uma porrada na cara do que se faz de rock hoje em dia - salvo raríssimas e respeitosas excessões, que não estou aqui pra generalizar, mas vamos e venhamos: o rock atual é uma viadagem sem tamanho. E a turnê que se seguiu ainda teve aquele showzasso em Copacabana, que eu ví de camarote, com meu filho Felipe e uma turma de amigos dinossauros, num apê alugado pra isso, ao lado do Copacabana Palace. Delírio puro. Os caras botaram 2 milhões pra pular nas areias da praia. 220 na tomada.

Keith é um verdadeiro laboratório de testes de substâncias químicas. Todas as drogas que foram inventadas até hoje, destinadas a fazer a cabeça, chapar, alucinar, viajar etc, foram testadas no seu campo de provas humano. Depois do seu OK de controle de qualidade é que elas foram comercializadas. E ele tá aí até hoje. Uma verdadeira propaganda negativa das campanhas antidrogas. "Drogas matam". "Matam nada, olha o Keith Richards!"

Mas o que me encantou no livro foi sua postura, sua integridade artística e humana, seu amor à arte, o jeito que ele valoriza cada pequena experiência de vida, sua autenticidade, suas atitudes como pai. Ele só confirmou o que eu sempre achei dele: Keith é o rock'n'roll em pessoa. Adorei ver sua versão sobre tantas histórias que eu já conhecia, a respeito da banda ou dele mesmo. Não sei fazer crítica profissional, essa você encontra fácil digitando no google, toda a imprensa mundial resenhou este livro... minha crítica é de roqueiro.

Sou fã dos Stones desde sempre, devoro sua música como se fosse a primeira vez, lí o livro inteirinho ouvindo discos relacionados a cada trecho que estava lendo... nada como uma trilha sonora pra leitura! Minha crítica como roqueiro e fã dos Stones - que eu acho válida, uma vez que é a nós que o livro se destina - é que o livro é perfeito, a não ser pelo número de páginas, devia ter mais de mil.

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